quarta-feira, 9 de março de 2011

(500) Dias com Ela / (500) Days of Summer



O filme me fez lembrar de algumas outras pérolas, jóias raras do cinema – O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, Todas as Mulheres do Mundo, Simplesmente Amor/Love Actually, Apenas Uma Vez/Once. Tem o frescor, a alegria dos dois últimos, e a criatividade, a imaginação, a inteligência das brincadeiras formais dos dois primeiros. Lembra ainda umas cenas de dança e música de Todos Dizem Eu Te Amo e umas brincadeiras de Poderosa Afrodite, de Woody Allen.
É, na minha opinião, um das melhores comédias românticas de todos os tempos. É daqueles poucos, raros, maravilhosos, que deixam a gente levitando alguns centímetros acima do chão quando infelizmente terminam – infelizmente, porque a gente fica torcendo para que não termine nunca. Daqueles que fazem a gente achar que valeu o dia, valeu a semana, simplesmente por ter visto uma beleza de filme.
A criatividade começa antes da ação: de cara, há um letreiro com o seguinte “Aviso do Autor”: “O que vem a seguir é um trabalho de ficção. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.”
Rápida pausa. E aí acrescenta-se: “Especialmente você, Jenny Beckman”.
Nova rápida pausa. E aí acrescenta-se: “Puta”.




É bastante natural que a gente às vezes se decepcione um pouco com um filme que foi muito badalado, muito bem falado demais. Não costumo ler muito sobre filmes que ainda não vi, mas naturalmente vejo os títulos das matérias e das críticas nos jornais, nas revistas, na internet – e só vi elogios a (500) Dias com Ela. E então o risco de decepção existia, claro. E quem eventualmente ler este comentário aqui antes de ver o filme talvez se exponha ao mesmo perigo – de, na hora de ver, pensar: pô, legal, mas também não é aquilo tudo que andaram falando.
No meu caso específico com este filme, o risco de decepção foi embora com esse texto apresentado em letreiro antes mesmo do começo da ação. Com uma abertura dessa, com esse brilho, com essa inteligência faiscante, é claro que não haveria risco de decepção.
O garoto, Tom Hansen de Margate, New Jersey, cresceu acreditando que nunca seria verdadeiramente feliz até o dia em que encontrasse a mulher da sua vida. Essa crença surgiu a partir de uma exposição, quando ainda era muito jovem, à triste música pop britânica e uma leitura completamente mal feita do filme The Graduate. A garota, Summer Finn de Shinnecock, Michigan, não compartilhava dessa crença. A partir da desintegração do casamento de seus pais, ela passou a amar apenas duas coisas. A primeira era seu longo cabelo escuro. O segundo era quão facilmente ela podia cortá-lo sem sentir absolutamente nada.



Para contar a história dos 500 dias com Summer (o título original é um trocadilho óbvio com 500 dias de verão), nos quais Tom vai várias vezes do céu ao inferno, os roteiristas Scott Neustadter e Michael H. Weber desconstruíram totalmente a cronologia.
A desconstrução faz todo sentido, porque realça os altos e baixos da relação dos dois e torna muito mais divertido, para o espectador, acompanhar a montanha russa de sensações do nosso pobre protagonista profundamente apaixonado à primeira vista por aquele ser que se recusa a ser tida como “a namorada de alguém”.
Numa rápida passagem pela internet à procura das fotos para ilustrar o post, vi que, ao contrário do que eu achava, há muita gente que, em comentários muito sérios, sisudos, fazem duras críticas ao filme. Claro, todo mundo tem direito à sua opinião. Vi também que alguém diz que o filme pode ser tido assim como uma espécie de cruzamento de Alta Fidelidade com Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças com Annie Hall. De fato, tem um pouco de Brilho Eterno, na inventividade, na criatividade da narrativa. De Alta Fidelidade, tem as citações todas a música e a cinema, mais o clima de jovens espertos e bem informados sobre os assuntos mais próximos a eles. E de fato tem pitadas de Woody Allen, conforme eu já havia dito lá em cima. E tem, sim, pitadas de Annie Hall e de Manhattan: é um filme feito por gente que tem profundo amor à cidade de Los Angeles. Los Angeles já foi mostrada 200 mil vezes no cinema – em geral como uma cidade enlouquecedora, louca, dura, difícil. (500) Dias com Ela mostra uma Los Angeles linda, acolhedora – “uma cidade se transforma num mundo, quando a gente ama um de seus habitantes”, escreveu Lawrence Durell. De fato, o jovem Marc Webb fez com aquela metrópole doida o que o jovem Woody Allen fazia com Nova York.


2 comentários:

  1. Amei sua análise, Diego. Gostei do filme, achei que ele cumpriu o seu papel de entrar na mente de Tom e fazer com que a gente acompanhe aquele roteiro de término de namoro: mapear o romance, relembrar os bons momentos e tentar entender o que levou ao término. É fofo. Adorei sua comparação com outros filmes, mas confesso que só saquei a similaridade com Manhattan depois de ler o seu texto. Realmente genial. Brilho Eterno é um dos meus favoritos! <3

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  2. obrigado Andressa ,pelo comentário .... Brilho Eterno também é um dos meus favoritos (:

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